A influência da linguagem na forma de pensar

Linguagem e pensamento

Você já parou para pensar em como uma língua se forma? Em como as pessoas se comunicam de diferentes maneiras ao redor do globo e ao longo da história da humanidade? Já parou para pensar em como as palavras que usamos podem influenciar a forma como nós nos comunicamos? Aliás, você sabe a diferença entre comunicação, linguagem e idioma?

É provável que você nunca tenha feito essas perguntas a si mesmo ou a outra pessoa, a menos que seja um estudante ou um profissional da área de letras ou de comunicação. No entanto, independentemente de quem você seja e de qual seja a sua profissão, o fato é que ter nascido no Brasil e falar a língua portuguesa moldam a sua forma de pensar. Neste artigo, vamos entender por meio de alguns exemplos como tudo isso acontece!

Comunicação, linguagem e língua: qual a diferença?

Para quem não estuda o tema, pode parecer que essas três palavras designam a mesma coisa, o que não é verdade. Por isso, vamos diferenciá-las:

  • Comunicação: é o processo de tornar uma ideia comum, ou seja, de fazer com que o seu pensamento, de alguma maneira, seja exteriorizado para que outras pessoas pensem algo semelhante e compreendam o seu ponto de vista. Ex: quando você fala a palavra “maçã”, está comunicando a ideia que surgiu na sua mente — a maçã que estava na sua mente não é a mesma que a pessoa que ouviu a sua fala pensou, mas é o suficiente para comunicar a ideia.
  • Linguagem: linguagens são os meios que tornam a comunicação possível. Ex: linguagem verbal escrita (palavras escritas), linguagem verbal oral (palavras faladas), linguagem visual (desenhos, imagens, símbolos), linguagem corporal (gestos, expressões faciais, postura), sinais sonoros (buzinas, alarmes, enfim, sons com significados específicos).
  • Língua: línguas são os diferentes idiomas existentes, ou seja, conjuntos ordenados de palavras e regras gramaticais que orientam a comunicação em determinados lugares. Ex: língua inglesa, língua portuguesa, língua francesa etc.

Como as linguagens que utilizamos podem influenciar a nossa forma de pensar?

Como você pode notar, existem diferentes linguagens às quais as pessoas podem recorrer para que possam comunicar algo. A escolha da linguagem depende de uma série de fatores, como o emissor da comunicação, o receptor da comunicação e contexto em que essas pessoas estão inseridas.

Confira alguns exemplos:

  • Ao ensinar uma criança pequena que ela não deve colocar o dedo na tomada, podemos dizer a palavra “não” enfaticamente e balançar o dedo indicador, reforçando essa mensagem de negação. Não vamos enviar para a criança uma mensagem escrita, pois ela ainda não foi alfabetizada e, portanto, não sabe compreender/usar essa linguagem ainda.
  • Ao estabelecer um contrato entre duas empresas, empregamos a linguagem verbal escrita, pois, nesse caso, as cláusulas do contrato precisam estar registradas em um meio físico para que tenham validade. Diante desse contexto, portanto, a linguagem oral não é indicada.
  • Em algumas situações do cotidiano, precisamos de sinais sonoros e símbolos para uma comunicação mais rápida. É o que ocorre no trânsito, em que as buzinas e as cores dos semáforos cumprem bem essa função. Você já imaginou que confuso seria se, em vez de um semáforo vermelho, aparecesse uma enorme mensagem escrita “MOTORISTA, PARE AGORA!”?

Como você pode notar, as escolhas de linguagem que utilizamos influenciam consideravelmente os resultados que pretendemos alcançar em cada contexto.

Como as línguas influenciam a nossa forma de pensar?

Além das linguagens, até mesmo as línguas que falamos podem influenciar a maneira como pensamos. Como citamos, ter nascido no Brasil e falar a língua portuguesa faz com que você pense e aja de maneira diferente de como pensam e agem os nascidos em outros países.

Confira alguns exemplos:

  • No Brasil, expressamos o número 80 em apenas uma palavra (oitenta). Na França, há uma operação matemática mais complexa para expressar esse mesmo número (quatre-vingts, ou seja, “quatro vintes” 4×20). O número 90 é ainda mais curioso (Brasil = noventa. França = quatre-vingt-dix, ou seja, 4×20+10).
  • No Brasil, usamos algumas expressões para nos referirmos aos diferentes tons de verde, como verde-folha, verde-bandeira, verde-limão, que fazem parte do nosso repertório. Na Inglaterra, usa-se a expressão apple green, que poderia ser traduzida como “verde-maçã”, mas que, mesmo traduzida, não faz sentido aqui no Brasil, pois as nossas referências visuais são outras.
  • Por algum motivo, definimos que, na língua portuguesa, a palavra “lua” é feminina, e a palavra “sol” é masculina. Em alemão, os gêneros são invertidos, e as pessoas entendem o sol como algo feminino, e a lua como algo masculino.
  • Na língua portuguesa, é comum dizermos “eu vou cortar o cabelo”, mesmo que seja outra pessoa a fazer isso por nós, e não nós mesmos. Em inglês, se diz I’ll have my hair cut, cuja tradução seria “Eu terei os meus cabelos cortados”, deixando claro que não será a própria pessoa a autora da ação, mas sim um terceiro.
  • No ocidente, o sentido de leitura e escrita de textos se dá da esquerda para a direita. Na escrita árabe, porém, o sentido de leitura é o oposto, da direita para a esquerda.

As estatísticas apontam que existem mais de 7000 línguas em todo o mundo. Pense no tamanho das variedades de palavras, expressões, referências, estruturas gramaticais, metáforas e demais recursos linguísticos que existem. São muitas as formas de se comunicar, sendo que as nossas escolhas são resultado da nossa cultura, ao mesmo tempo em que ajudam a perpetuar essa cultura.

Então, quer dizer que, no Brasil, todo mundo pensa e fala igual?

Não! Os estudos sobre a comunicação e os seus impactos na nossa forma de pensar e agir ficam ainda mais impressionantes quando pensamos que existe uma série de variantes dentro de um mesmo idioma. Nesse sentido, confira alguns exemplos da língua portuguesa:

 

  • Variantes geográficas

 

São variações do uso da língua em determinadas regiões (regionalismos). Por exemplo: dependendo do estado brasileiro em que você foi criado, você pode falar “mexerica”, “tangerina” ou “bergamota” para falar de uma mesma fruta. Outro exemplo: no Brasil, falamos “trem”, mas, em Portugal, diz-se “comboio”.

 

  • Variantes históricas

 

São variações de palavras, expressões e até tempos verbais que deixam de ser usados. Por exemplo, quando lemos a carta de Pero Vaz de Caminha descrevendo o território brasileiro, parece tratar-se de outro idioma. Ao mesmo tempo, muitas palavras que utilizamos hoje em dia eram impensáveis 100 anos atrás, como: “postar”, “deletar”, “drink”, entre outros.

 

  • Variantes sociais

 

São variações que expressam como a comunicação dos indivíduos pode variar dependendo da sua idade, classe social, profissão, escolaridade etc. É o que ocorre, por exemplo, quando a linguagem utilizada por um médico ou advogado nem sempre é compreendida pelos seus pacientes ou clientes.

 

  • Variantes situacionais

 

São variações que precisam ser utilizadas de acordo com o contexto. Elas refletem os grupos sociais dos quais fazemos parte e o grau de formalidade que empregamos em diferentes circunstâncias. Amigos podem dizer “E aí, mano, beleza?” um ao outro. No entanto, ao conversarem com o chefe no trabalho, é melhor substituir essa saudação por algo mais formal, como “Boa tarde, como vai?”.

Portanto, esses exemplos indicam que, mesmo entre aqueles que falam uma mesma língua, também há muitas diferenças na forma como as pessoas se comunicam. Essas formas expressam diferentes referências de vida e diferentes formas de se expressar. Assim, uma pessoa que se comunica bem é aquela que consegue compreender esses contextos e entender a linguagem ideal a ser empregada nele, de modo que possa fazer-se entender.

Por que eu penso do jeito que eu penso?

Diante de todas as variedades expostas, podemos compreender que a comunicação humana, as linguagens e as próprias línguas são estruturas vivas, em constantes modificações. Palavras, expressões e estruturas gramaticais entram em desuso, são modificadas ou mesmo substituídas por novos padrões.

Além disso, outra conclusão que precisa ser extraída dessa reflexão é que, por mais que exista a gramática normativa de cada língua, falar em “certo” e “errado” em meio a todas as variantes expostas é algo complexo, que pode esbarrar em preconceito. Se a pessoa foi entendida pelos receptores da mensagem, ela pode ter sido mais bem-sucedida do que aquele que empregou uma gramática impecável, mas que não foi compreendido.

Em conclusão, a forma como você se comunica (tipo de linguagem, palavras, estruturas, expressões, referências e variantes) diz muito sobre quem você é e sobre a cultura em que você está inserido. O mesmo vale para todas as pessoas com as quais você convive: todos os recursos que elas usam para se comunicar com você são reflexos de tudo o que elas já viveram.

Assim, a linguagem e a língua tanto influenciam como são influenciadas pelo meio. É por isso que precisamos diversificar os grupos de pessoas com os quais convivemos, estudamos, trabalhamos, ensinamos e consumimos conteúdos. Isso enriquece o nosso repertório individual, ao mesmo tempo em que nos fortalece enquanto sociedade. Na diversidade de indivíduos, encontra-se talvez a maior riqueza da humanidade.

Portanto, ao se perguntar “Por que eu penso do jeito que eu penso?”, “por que eu falo do jeito que eu falo?” ou “por que eu ajo do jeito que eu ajo?”, pense em todas as particularidades e possibilidades de escolhas que a comunicação pode oferecer. Você é um somatório de todas as suas vivências!

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José Roberto Marques

Sobre o autor: José Roberto Marques é referência em Desenvolvimento Humano. Dedicou mais de 30 anos a fim de um propósito, o de fazer com que o ser humano seja capaz de atingir o seu Potencial Infinito! Para isso ele fundou o IBC, Instituto que é reconhecido internacionalmente. Professor convidado pela Universidade de Ohio e Palestrante da Brazil Conference, na Universidade de Harvard, JRM é responsável pela formação de mais de 50 mil Coaches através do PSC - Professional And Self Coaching, cujo os métodos são comprovados cientificamente através de estudo publicado pela UERJ . Além disso, é autor de mais de 50 livros publicados.



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