As Causas do Medo

Medo Conheça as causas do Medo

 

A mente e o cérebro humano funcionam ativamente para garantir a sobrevivência de todo o organismo. Isso é um fato conhecido e estudado pela Neurociência. Nosso cérebro possui uma rede de configuração complexa para se resguardar de vários tipos de perigo e ameaça. E um dos mecanismos usados nesse sistema de segurança mental é justamente o sentimento de medo.

Conceitualmente, podemos definir o medo como um sentimento que provém da intimidação e ameaça. É a sensação de que algo ruim pode nos acontecer e nos ferir, tanto física quanto psicologicamente. O famoso medo do escuro é o maior exemplo do que significa ter medo: o escuro representa aquilo que não sabemos.

No escuro, não sabemos o que iremos encontrar, não sabemos onde pisar, se seremos atacados por animais perigosos, se cairemos em algum buraco. O medo do escuro reúne todas as nossas dúvidas, incertezas e inseguranças.

Do ponto de vista do conteúdo daquilo que pode causar medo nos seres humanos, existe uma enorme variedade. Cada pessoa pode sentir medo de coisas específicas, como por exemplo medo de voar de avião ou medo de espaços abertos. Outras pessoas podem sentir medo de falar em público, de aceitar um desafio profissional, de aranhas ou de se declarar para a pessoa que ama.

Com tanta variedade de causas, situações e efeitos, pergunto a você: o que podemos perceber de comum, qual a característica que une todos esses medos? A meu ver, trata-se da antecipação de algo que poderia acontecer. Todos os nossos medos se baseiam na possibilidade de algo ruim acontecer.

Em outras palavras, temos medo do que nossa mente acredita que pode nos acontecer em determinada situação. Tomemos como exemplo alguns de nossos medos banais, aqueles que conseguimos gerenciar no nosso dia a dia. Ao atravessar uma rua movimentada com uma criança pequena, é natural que tenhamos um pouco de medo porque imaginamos a possibilidade de sermos atropelados. Quando esse medo é comum, ele é facilmente gerenciado pela prudência. Temos a prudência de olhar para os dois lados, aguardar o sinal fechar e atravessar a rua na faixa de pedestre.

Nesse exemplo, o medo é causado pelo que a nossa mente acredita ser uma possibilidade. Nossa mente nos antecipa, inconscientemente, todos os desfechos possíveis para as situações que enfrentamos. Por isso, ao atravessar uma rua movimentada, nossa mente nos antecipa que existe a possibilidade de um acidente. O problema começa quando não conseguimos gerenciar esses medos.

Em geral, a maioria das pessoas não deixa de atravessar uma rua por medo. Contudo existem casos em que os medos crescem e se tornam fobias. Esse processo da mente, de antecipação do que nos poderia acontecer, é extremamente útil e necessário, principalmente quando nos deparamos com um perigo real.

Em situações de perigo real, temos que estar preparados literalmente para lutar ou fugir. O medo desperta também reações fisiológicas que ajudam a prevenir o organismo: aumenta o fluxo de adrenalina, os sentidos se aguçam, a respiração se torna mais rápida. Todas essas reações físicas fazem sentido em contextos de perigo real quando precisamos nos defender; mas, e quando sentimos medo de coisas, objetos e situações que não apresentam nenhum perigo real? Sentir constantemente esses sintomas é extremamente fatigante e cria um ciclo vicioso de medo. Nosso corpo, ao invés de se preparar para lutar ou fugir, acaba tendo que se habituar a viver constantemente sujeito a sentir essas reações, em situações que, na verdade, não exigem nenhuma resposta física. E aí começam os problemas.

Como se não bastassem os sintomas físicos do medo, existem ainda outros sintomas de ordem emocional e psicológica. Quando você sente medo, você também é afligido pelo sentimento de incapacidade. Incapacidade de lidar com algo, fraqueza e falta de força. É como se o objeto que te causa medo fosse muito maior que você. Isso é capaz de destruir a autoestima e a autoconfiança de qualquer pessoa.

E isso não é consciente, acredite. Se você já passou por isso, sabe bem que, por mais que você não queira ter medo, por mais que você não queira se sentir ameaçado, a nossa mente libera essas emoções independentemente da nossa consciência. O medo é um dos conteúdos que constituem a nossa consciência. Vivemos e sentimos o medo tanto externamente quanto internamente. Dentro de cada um de nós, nas profundezas de toda alma humana, existe um medo terrível da realidade, do momento presente e o medo do futuro, das coisas que virão e também das que deixarão de existir. A maior parte de nós conhece o que é o medo de várias formas, pelo medo do amanhã, medo de perder o emprego, medo de ser assaltado, medo da morte, medo de ser traído, enfim, sentimos muito medo de muitas coisas diferentes.

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O que quase ninguém percebe, entretanto, é que o medo cria raízes. Imagine uma árvore grande com muitos galhos, assim é o medo. Percebemos que temos medo de algumas situações específicas e sem sentido e tentamos lidar com elas, na sua ocorrência imediata, sem nos perguntarmos as suas verdadeiras causas.

Os medos triviais, como o medo de insetos ou de filmes de terror, são apenas os galhos de uma estrutura muito maior e que possui raízes profundas dentro de nós. Cortar os galhos dessa árvore não resolve o problema, pois, enquanto suas raízes existirem, essa árvore estará sendo nutrida de nossa energia mental.

Existem muitas teorias e explicações de diversos cientistas a respeito das possíveis causas para o sentimento de medo. Em meus estudos, cheguei à seguinte síntese: dentre as várias origens possíveis do medo, podemos delimitá-las a um único propósito, a autopreservação, que significa manter a integridade do organismo.

Esse propósito se divide em duas finalidades: preservação da integridade física e preservação da integridade psíquica. Sentimos medo, primeiramente, de qualquer coisa que possa ameaçar nossa integridade física, como por exemplo barulhos altos e repentinos, batidas ou explosões, animais ferozes ou peçonhentos etc. Esse medo é uma precaução da mente para evitar possíveis danos físicos.

Ele está fundamentado num princípio de autopreservação: o medo de situações nas quais existe perigo pela possibilidade de nos ferirmos visa nos fazer evitar determinadas situações ou conflitos.

Esse medo de ser ferido é suficiente para nos desestimular a tomar diversas atitudes, algumas delas com razão, outras nem tanto, como veremos adiante. Sentimos também medo de ameaças à nossa integridade psicológica e emocional: medo do abandono, medo da solidão, medo do ridículo ou de passar vergonha, medo do julgamento de outras pessoas etc.

O medo que sentimos nessa esfera é relativamente mais complexo do que o medo de ameaças físicas reais. A civilização e a evolução humana nos garantiram uma segurança muito grande para a maioria de ameaças físicas a que estaríamos expostos na natureza. De uma forma geral, nós, que vivemos em cidades, não temos o medo constante de sermos atacados por nenhum predador animal selvagem, por exemplo.

O verdadeiro problema, quando analisamos a questão das causas (e finalidades) do medo, é que elas nem sempre aparecem de forma pura. Para a maior parte das pessoas, as motivações psíquicas e físicas se misturam. Sentimos medo de outros seres humanos tanto pela nossa integridade fí- sica quanto pela nossa integridade psíquica. Sentimos às vezes um medo terrível de animais ou de situações que dificilmente poderiam nos causar qualquer ferimento real.

Sentimos medo de não nos adaptarmos, de não sermos aceitos em sociedade, de não correspondermos ao que esperam de nós, sentimos medo do fracasso, sentimos medo do desconhecido. Um dos principais motivos do medo psicológico é a comparação.

Comparar-se com outras pessoas é praticamente inevitável, mas a comparação nos leva à impressão de termos sempre menos, de sermos sempre inferiores, e isso gera sofrimento. Aprendemos a nos comparar desde que nascemos. Medimos nossa altura e a comparamos com a de outras pessoas, para sabermos se somos altos ou baixos. Comparamos nosso peso com o de outras pessoas, nossas roupas, nossas posses.

E não só com outras pessoas, comparamo-nos com nós mesmos em diferentes fases de nossa vida: “Antigamente eu tinha um carro ótimo, hoje não tenho mais.” Esse movimento de comparação parte do desejo humano de tornar-se algo. Toda a nossa educação, tanto a que recebemos na escola quanto a que recebemos de nossa família, tem, no fundo, o intuito de nos transformar em algo.

Formação significa dar forma a algo. E, se precisamos nos formar, isso quer dizer então que não temos forma? Metaforicamente, é como se nossos medos psicológicos começassem nos fazendo pensar assim: “Se não sou nada e não tenho forma, eu preciso tentar me tornar alguma coisa. Mas, e se eu não conseguir?”

Se uma pessoa é pobre, ela irá desejar ter mais dinheiro e, portanto, terá que lidar com o medo de não conseguir o que deseja. Uma pessoa rica, por outro lado, irá desejar ainda mais dinheiro e mais poder e terá medo não só de não conseguir o que deseja, como também de perder o que já tem.

Nesse sentido, nossos desejos nos acorrentam tanto quanto o medo que eles criam. Socialmente, o ser humano é convocado a tornar-se algo ou alguém antes mesmo que ele possa sequer se expressar verbalmente.

Essa demanda parte de comparações e cria mais comparações. E, a não ser que você tome a decisão consciente de guiar a sua própria vida e os seus próprios desejos, você sempre será vítima da comparação. Sempre haverá alguém fazendo algo melhor do que você. Para a mente humana, a comparação pode criar uma motivação inicial, mas não se iluda, é um mero fogo de palha. Essa motivação logo se transforma em frustração.

Ser livre significa também ser capaz de criar seus próprios modelos e entender que você possui uma vida e uma história únicas. Não existe um modelo ideal. Não é possível alcançarmos a maturidade, a felicidade e o amor apenas imitando exemplos preestabelecidos. A grande verdade da vida é esta: ninguém sabe qual é a verdade da vida. Libertar-se do medo, portanto, significa saber libertar-se dos seus desejos de ser e de ter. Primeiramente, porque você já é. Simplesmente é. Você existe, você já é alguém. Você não precisa se tornar algo, a não ser que você queira se tornar algo diferente do que já é.

Não há problema nenhum em mudar de opinião, de emprego, de cidade. O problema é abandonar a si mesmo no processo. No início deste capítulo mencionei que é comum vermos pessoas presas a suas rotinas por medo de um futuro incerto, por medo do desconhecido. Isso me fez pensar em muitas coisas e ter muitos insights. Alguns dias atrás, entre a correria de uma viagem e outra, em um dos raros momentos de descanso em casa, liguei a TV, e estava passando um filme de terror qualquer.

Parei para assistir algumas cenas e comecei a pensar: o que há nesses filmes que nos causa medo? E por que assistimos a algo que nos causa medo? Será que algumas pessoas gostam de sentir medo, por isso assistem a esses filmes? Não sou nenhum especialista em cinema, longe disso. Mas, se o leitor me permitir um breve parêntese, gostaria de lhe perguntar: você já percebeu que os vilões e monstros mais assustadores nos filmes de terror são justamente aqueles que não podemos ver?

Aqueles que não aparecem, dos quais não sabemos a forma? Eles são a expressão pura do medo, um monstro que se esgueira pelas sombras, sem forma definida, sem rosto e sem voz: um completo indefinido. Como enfrentar aquilo que desconhecemos? Volto a insistir no medo do escuro como um exemplo de medo puro.

O medo do escuro é um medo sem objeto, por isso é tão universal. É medo daquilo que pode estar escondido nas sombras. Se o sentimento de medo não necessita de um objeto específico e definido para ser ativado, então acredito que, para compreendê-lo como um todo, precisamos investigar a fundo outros elementos na sua origem. Já mencionei o desejo como uma fonte primária que ocasiona medo, insegurança e frustração, você se lembra?

Pois bem, agora já sabemos que o medo não precisa de um objeto específico; permita-me reafirmar que, na sua origem, o medo parte de um desejo. Mas, que desejo? Se observarmos a natureza do desejo e sua relação com o medo, perceberemos facilmente que a nossa mente, na verdade, não tenta apenas evitar perigos de forma negativa. Nossa mente não trabalha apenas para afastar, evitar e fugir de ameaças.

Se assim fosse, nossa mente estaria atuando sempre em função de um “não”. Quero dizer com isso que a nossa mente cria um desejo de segurança ao invés de um desejo de “não-insegurança”. Parece complexo, eu sei, mas você consegue entender a diferença entre essas coisas? Na mente inconsciente, não existe desejo negativo.

Por isso, nossa mente cria, na verdade, um desejo de segurança; e, a partir desse desejo, para nos sentirmos seguros, passamos a evitar e afastar diversas situações e conflitos. Todo desejo caminha lado a lado com uma espécie de conflito. Ele fica entre dois extremos: a possibilidade de realização ou de frustração. Por isso, é extremamente importante que você reflita e perceba os seus desejos.

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José Roberto Marques

Sobre o autor: José Roberto Marques é referência em Desenvolvimento Humano. Dedicou mais de 30 anos a fim de um propósito, o de fazer com que o ser humano seja capaz de atingir o seu Potencial Infinito! Para isso ele fundou o IBC, Instituto que é reconhecido internacionalmente. Professor convidado pela Universidade de Ohio e Palestrante da Brazil Conference, na Universidade de Harvard, JRM é responsável pela formação de mais de 50 mil Coaches através do PSC - Professional And Self Coaching, cujo os métodos são comprovados cientificamente através de estudo publicado pela UERJ . Além disso, é autor de mais de 50 livros publicados.



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