Gaslighting no trabalho – O que é e quais são suas consequências?

grupo de colegas rindo de outra colega

Saiba como lidar com o gaslighting.

Há cada vez mais debates a respeito de relacionamentos amorosos abusivos, contudo, essas relações tóxicas podem acontecer também no ambiente de trabalho. É essencial que essa discussão seja trazida à tona como uma forma de auxiliar as vítimas a compreender o que estão passando.

Nesse contexto, as mulheres costumam ser as principais vítimas, especialmente por um padrão social de comportamento que não identifica o ambiente corporativo como o lugar delas. Entre as práticas abusivas mais recorrentes no ambiente laboral destacamos a do gaslighting. 

Trata-se de um comportamento que leva a vítima a questionar suas certezas e até mesmo a sua sanidade. No artigo a seguir explicaremos com mais detalhes no que consiste o gaslighting, uma das faces do assédio moral e quais são as suas consequências. 

O que é gaslighting?

O gaslighting consiste em uma forma de abuso psicológico em que o abusador leva a vítima a duvidar da própria percepção, memória e até sanidade. Para isso, esse indivíduo distorce, inventa ou omite fatos e informações da vítima. O nome “gaslighting” tem origem em uma peça de teatro intitulada “Gaslight”. A trama foi adaptada para o cinema e no Brasil recebeu o nome de “À Meia-Luz”. 

O enredo nos apresenta uma mulher muito rica que é manipulada pelo seu marido, sendo levada a crer que está louca, o que resulta na sua internação. É importante pontuar que a manipulação atinge as pessoas à volta do casal que acreditam na narrativa do abusador. 

No contexto corporativo, o gaslighting pode se manifestar através da manipulação de situações. Por exemplo, o abusador solicita que uma funcionária (a vítima) realize uma tarefa como prioridade, deixando as demais atividades em segundo plano. Contudo, quando está diante de outras pessoas, ele questiona a colaboradora sobre o motivo pelo qual apenas uma tarefa importante está concluída.

Aos olhos dos demais parecerá que a funcionária é desatenta ou simplesmente irresponsável. Pode acontecer, inclusive, da própria profissional pensar que realmente entendeu mal e que prejudicou a empresa.

Relação de poder

No gaslighting, a manipulação se dá em um contexto de relação de poder. Esse tipo de abuso pode ser cometido contra homens e mulheres. No entanto, é mais comum que esses discursos sejam usados contra públicos já desacreditados socialmente, pessoas com menos poder na estrutura social. Mulheres e minorias são os públicos mais atingidos pela manipulação do gaslighting. 

O gaslighting somente existe quando há alguém com poder discursivo sobre o outro. Nesse caso, um discurso anula o outro somente pelas posições de poder que ocupam. Devemos pontuar que o abusador não argumenta ao discordar da vítima, apenas rebate sua fala, usando um discurso que anula tudo aquilo que foi dito. Logo, não existe qualquer chance de haver uma discussão.

Entre as expressões mais recorrentes estão: 

“Você não sabe…”;

“Você está louca…”

“Eu estava só brincando, cadê seu senso de humor?”

“Você é realmente muito sensível, não digo mais nada.”

“Você está errada.”. 

Após ouvir repetidamente essas e outras frases, a vítima passa a acreditar que a culpa do que eventualmente dá errado é sua. A autoestima de uma pessoa submetida a esse tipo de abuso costuma ser bastante comprometida. É um processo bastante desgastante e insalubre para a saúde mental.

Quais são as consequências do gaslighting no trabalho? 

O gaslighting pode acarretar uma série de consequências para a carreira da vítima. Em alguns casos, pode levar a pessoa a perder a sua identidade profissional, capacidade de tomada de decisões e autoconfiança.

A vítima passa por um processo de profunda fragilização, insegurança e dúvidas a respeito de si mesma. Em muitos casos, se torna difícil até mesmo realizar atividades laborais simples porque há a crença de ser incapaz.

Uma das consequências mais recorrentes é a demissão, seja por pedido próprio, por não suportar a pressão ou pela empresa não compreender o contexto. Porém, mais do que perder um emprego, ser submetido a gaslighting pode levar uma pessoa a ter sérios danos emocionais e morais. O acompanhamento psicológico é essencial para que esse profissional recupere a sua autoconfiança e saúde mental.

Como identificar o gaslighting? 

Uma das formas mais simples de identificar a prática de gaslighting é observar as frases típicas de abuso sendo ditas com recorrência. Contudo, existem outras formas de identificar essa situação de abuso no ambiente profissional. Além disso, é essencial que a vítima se fortaleça para conseguir analisar com mais frieza o contexto como um todo.

De maneira geral, as pessoas têm uma forma própria de realizar as suas atividades profissionais, um jeito de trabalhar. É interessante começar a observar se algo mudou. Se você estava em uma situação de ascensão profissional, por exemplo, e de repente tudo mudou, é válido tentar entender. Você passou a sentir insegurança diante do que fazia com facilidade? Há receio e temor especialmente em relação a um gestor ou colega? 

Como é o comportamento desse gestor ou colega? Essa pessoa distorce as informações ou fala uma coisa para você e outra para os colegas? Esse indivíduo nega que disse ou fez algo que você tem certeza de que ele disse ou fez? Ele tem esse comportamento com outras pessoas? 

Como lidar com o gaslighting após identificá-lo? 

Algo comum entre as relações abusivas, amorosas e profissionais, é o temor da vítima de perder algo. A vítima teme perder o parceiro (a) ou o emprego. Precisamos ressaltar que cada situação de abuso é particular, então, não há exatamente uma receita para sair de todas. Dependendo do contexto, pode ser que você perca algo ao explicitar a forma como pensa. 

Infelizmente, em um cenário de elevadas taxas de desemprego não é possível para todas as vítimas pedir demissão em prol de sua saúde mental. Um dos caminhos possíveis é o de procurar o setor de Recursos Humanos da empresa e relatar a situação. No entanto, é importante que o RH seja bem estruturado.

Se na sua empresa o RH não é tão bem estruturado, é mais interessante compartilhar a situação com alguém de sua confiança no contexto laboral. O colega escolhido não precisa ser do mesmo setor que você, apenas uma pessoa justa e com postura profissional. Ao compartilhar o seu ponto de vista, você dá início a recuperação da sua segurança.

Em caso de ainda ter dúvidas, é possível e indicado consultar um profissional da área de saúde mental, como um psicólogo, por exemplo. Algo imprescindível para escapar do gaslighting é ter autoconhecimento, pois isso permite se manter forte, mesmo diante de situações que podem gerar dúvidas internas.

O gaslighting é um tipo de abuso psicológico e deve ser reprimido pelas empresas. Aproveite para compartilhar este conteúdo em suas redes sociais para passar a informação adiante.

José Roberto Marques

Sobre o autor: José Roberto Marques é referência em Desenvolvimento Humano. Dedicou mais de 30 anos a fim de um propósito, o de fazer com que o ser humano seja capaz de atingir o seu Potencial Infinito! Para isso ele fundou o IBC, Instituto que é reconhecido internacionalmente. Professor convidado pela Universidade de Ohio e Palestrante da Brazil Conference, na Universidade de Harvard, JRM é responsável pela formação de mais de 50 mil Coaches através do PSC - Professional And Self Coaching, cujo os métodos são comprovados cientificamente através de estudo publicado pela UERJ . Além disso, é autor de mais de 50 livros publicados.



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